sexta-feira, 23 de março de 2012

QUASE
(Luis Fernando Veríssimo)

Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a

desilusão de um "quase".

É o quase que me incomoda, que

me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter

sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase

passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem

quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades

que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem

por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa

maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes,

o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não

me pergunto, contesto.

A resposta eu sei de cor, está

estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão

dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que

sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez

esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a

dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse

mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias

seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não

ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia

o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova

montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance,

para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos

somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida

da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores

impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio

ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou

indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque,

que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas

realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo

que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo,

quem quase vive já morreu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário